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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O Espiritismo no Rio de Janeiro - Rio de Janeiro 450 anos

O Espiritismo no Rio de Janeiro





Fundação da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro








O Espiritismo no Rio de Janeiro

O período Imperial

Na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, as primeiras sessões espíritas foram realizadas por franceses, muitos deles exilados políticos do regime de Napoleão III de França (1852-1870); na década de 1860. Alguns desses pioneiros foram o jornalista Adolphe Hubert, editor do periódico Courrier do Brésil, o professor Casimir Lieutaud e a médium psicógrafa Madame Perret Collard.

Em 1860, o professor Casimir Lieutand, fundador e diretor do Colégio Francês no Rio de Janeiro publicou a tradução, em língua portuguesa, das obras "Os tempos são chegados" (Les Temps sont arrivés) e "O Espiritismo na sua mais simples expressão" (Le Spiritisme à sa plus simple expression).

O primeiro periódico a publicar trechos traduzidos das obras de Allan Kardec foi o "A Verdadeira Medicina Física e Espiritual associada a Cirurgia: jornal científico ocultas e especialmente de propaganda magnetotherapia", publicado de janeiro a abril de 1861 pelo Dr. Eduardo Monteggia, não por que se considerasse espírita, mas sim um democrata.

No mesmo período, o Jornal do Commercio, tradicional periódico da então capital brasileira, em artigo publicado em 23 de setembro de 1863 na seção Cronicas de Paris, abordou os espetáculos acerca dos espíritos então populares nos teatros de Paris e, em seguida, passava a tecer comentários em torno do Espiritismo. Esse artigo é citado pela Revue Spirite, onde Kardec comenta que o autor do artigo não aprofundou-se no estudo do Espiritismo, de cuja parte teórica ignorava os processos. Elogia-lhe, porém, o comportamento sensato diante dos fatos, para a explicação dos quais não levantara teorias temerárias. "Pelos menos" - referiu Kardec - "ele não julga pelo que não sabe." E complementa:

"Verificamos, com satisfação que a ideia espírita faz progressos sensíveis no Rio de Janeiro, onde ela conta com numerosos representantes, fervorosos e devotados. A pequena brochura "Le Spiritsime à sa plus simple expression", publicada em língua portuguesa, contribuiu, não pouco, para ali espalhar os verdadeiros princípios da Doutrina."

No Rio de Janeiro, a primeira instituição espírita foi a Sociedade de Estudos Espírita - Grupo Confúcio, em 1873. Conforme previsto em seus estatutos, devia seguir os princípios e as formalidades expostos em O Livro dos Espíritos e em O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec. As suas atividades incluíam ainda o receituário gratuito de homeopatia e a aplicação de passes aos necessitados. A sua maior virtude, entretanto, foi a de promover a tradução das obras básicas de Kardec para a língua portuguesa. A reação na imprensa da época expressa-se, por exemplo, num comentário veiculado nas páginas do Jornal do Commercio, acusando o Espiritismo de fabricar "loucos" e pedindo a interferência da polícia, concluíndo: "É uma epidemia mais perigosa que a febre amarela..." (Jornal do Commercio, 13 de dezembro de 1874).

Em 1875, o Grupo Confúcio, lançou o segundo periódico espírita do país (primeiro no Rio de Janeiro), a "Revista Espírita", dirigida por Antônio da Silva Neto. A este grupo estiveram ligados nomes expressivos como o de Joaquim Carlos Travassos que, ainda em 1875, apresentou a primeira tradução de "O Livro dos Espíritos" para a língua portuguesa a Bezerra de Menezes.

O Grupo extingui-se em 1876, dando lugar à Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade, sob a direção de Francisco Leite de Bittencourt Sampaio. No seu programa doutrinário, em que a obra codificada por Allan Kardec era parte essencial, compreendia-se o estudo da obra   "Os Quatro Evangelhos", de Jean-Baptiste Roustaing.

Divergências ideológicas entre os que preconizavam um espiritismo "científico" e outros que sustentavam um espiritismo "mistico", entretanto, conduzirão a dissidências da Sociedade de Estudos. Inicialmente, em 1877 um grupo se separou para constituir a Congregação Espírita Anjo Ismael (20 de maio). No ano seguinte (1878) outro grupo constituiu o Grupo Espírita Caridade (8 de junho). Ambos tiveram efêmera duração, estando desaparecidos já em 1879. Nesse mesmo ano, a Sociedade de Estudos deu lugar à Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade (03 de outubro de 1879), atendendo à orientação do grupo "cientificista", contrário ao caráter religioso da Doutrina. Em consequência, um último grupo, sob a liderança do médium João Gonçalves do Nascimento, de acordo com a tradição sob a inspiração do próprio espírto Ismael, constituiu uma nova agremiação que se denominou Grupo Espírita Fraternidade (1880).

Ainda nesse contexto, Antônio Luís Sayão que debalde tentara conciliar a Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade com o Grupo Espírita Fraternidade, fundou, com Frederico Pereira Júniro, João Gonçalves do Nascimento, Francisco Leite Bittencourt Sampaio e outros, o chamado "Grupo dos Humildes", popularmente conhecido como "Grupo do Sayão" (15 de julho de 1880). Este grupo, numa primeira fase, que durou cerca de um ano, realizou proveitosas reuniões. Mais tarde o grupo veio a chamar-se "Grupo Ismael", vindo a integrar-se na Federação Espírita Brasileira, onde existe até os nosso dias. 

Também em 1880, Augusto Elias da Silva, futuro fundador do Reformador e da Federação Espírita Brasileira (FEB), funda a União dos Espíritas do Brasil, a que preside. Sobre o conturbado momento, referiu o pesquisador Pedro Richard:

"Por essa época ocorreu um fato bem significativo: Os espíritas, ou por discordância de ideias, ou por criminosa pretensão, criaram considerável número de grupos, cujos membros, em sua maioria, desconheciam os preceitos mais rudimentares da Doutrina. Qualquer espírita formava um grupo, só para satisfazer a vaidade de dar-lhes por título um nome que ele venerava. De grupos produtivos apenas se contavam alguns, em número por demais reduzido."

No ano seguinte (1881), como um desdobramento do Grupo Fraternidade foi fundado o Grupo Espírita Humildade e Fraternidade, com apoio de Francisco Raimundo Ewerton Quadros, que viria a ser, anos mais tarde, um dos fundadores da FEB e seu primeiro presidente (7 de junho). O ano foi marcado, entretanto, pelo início da perseguição oficial ao Espiritismo (28 de agosto). Os epriódicos cariocas O Cruzeiro e Jornal do Commercio, anunciaram em sua páginas, em furo de reportagem, a ordem policial que proibiu o funcionamento da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade e dos centros que lhe eram filiados, tornando passíveis de sanções penais os espíritas que contrariassem as dsiposições policiais.

Nesse mesmo dia, a Sociedade reuniu-se em sessão extraordinária, a fim de tomar providências defensivas, caso a referida notícia fosse confirmada. Ainda nesse mesmo dia, a Diretoria da Sociedade Acadêmica compareceu perante o Ministro da Justiça, que a recebeu com muita cordialidade, declarando que deveria ter havido algum equívoco, e que não consentiria na perseguição de ninguém.

Entretanto, no dia 30 de agosto, um Oficial de Justiça apresentou à Sociedade Acadêmica a contra-fé do mandado de intimação do 2 Delegado de Polícia do Município da Corte, mandado que suspendia a vedava as reuniões da dita Sociedade, alegando que ela não se achava legalmente constituída. De imediato, a Diretoria da Sociedade Acadêmica expediu ofícios ao Chefe de Polícia e ao Ministro da Justiça, Conselheiro Manuel Pinto de Souza Dantas, demonstrando a arbitrariedade daquela medida. Uma comissão da qual faziam parte Dr. Antônio Pinheiro Guedes, Carlos Joaquim Lima e Cirne e o Dr. Joaquim Carlos Travassos, entrou em contato com o Chefe de Polícia, que, apesar de a ter recebido com amabilidade, nada resolveu, dando a entender que a ordem vinha de autoridade superior.

É nesse contexto que, no dia 06 de setembro de 1881, teve lugar o primeiro Congresso Espírita no Brasil, promovido pela Sociedade Acadêmica. No mesmo dia, uma comissão de espíritas foi recebida pelo Imperador Dom Pedro II do Brasil, a quem entregou em mãos um documento com minuciosa esposição dos fatos e o pedido de que se fizesse justiça. O Imperador, na ocasião também teria afirmado: "Eu não consisto em perseguição". Duas semanas depois, dia 21, a mesma comissão retornou ao palácio a fim de conhecer da resposta às considerações emitidas na exposição que fora entregue ao Imperador. Este afirmou que enviara os papéis ao Ministro do Império para dar solução ao caso, e tornou a afirmar, com certo ar de graça: "Ninguém os perseguirá. Mas... não queiram agora ser mártires."

Embora a ordem policial jamais tenha sido oficialmente revogada, também não teve prosseguimento. Finalmente, em Ofício de 10 de janeiro de 1882, dirigido a Sua Majestade Dom Pedro de Alcântara, Imperador do Brasil, a Diretoria da Sociedade Acadêmcia manifestou o seu júbilo "pelo começo da tolerância" em relação àquela Sociedade. "Sinal evidente de que estão terminadas as perseguições encetadas contra o Espiritismo e os espíritas".

Essa primeira ação policial contra o Espiritismo, teve como fruto a fundação, no Rio de Janeiro, em setembro ou outubro de 1881, do Grupo Espírita Vinte e Oito de Agosto, data que os espíritas da época quiseram fixar para a posteridade.

Em consequência do Congresso Espírita, veio a ser fundado, a 03 de outubro, do mesmo ano, na "Sociedade Acadêmica", o Centro da União Espírita do Brasil, pelo professor Afonso Angeli Torteroli. A novel instituição tinha a proposta de congregar e orientar as sociedades espíritas a nível nacional. Entre os seus associados contava-se o nome de Lima e Cirne. Esta Sociedade lançou, em janeiro de 1881, uma revista, o segundo periódico espírita no Rio de Janeiro, tendo nele colaborado o Major Ewerton Castro.

Para marcar o primeiro aniversário da notícia sobre a repressão espírita, foi aberta, a 28 de agosto de 1882, a I Exposição Espírita do Brasil, na sede da Sociedade Acadêmica, na Rua da Alfândega, 120, sobrado. O programa comemorativo, organizado pela própria Sociedade, intitulava-se "Festa do Espiritismo no Brasil" e estendeu-se até 03 de setembro.

Os seus visitantes tiveram a oportunidade de apreciar variados trabalhos mediúnicos, como psicografias em caracteres normais, taquigráficos e telegráficos, em línguas estrangeiras (até orientais), psicopictografias, cópias da correspondência da Sociedade Acadêmica com associações espíritas estrangeiras, jornais e revistas espíritas da Europa e da América, obras espíritas diversas, retratos de vultos do Espiritismo de vários países e, também livros e jornais contrários à Doutrina.

Na ocasião foi lançado ainda o jornal "O Renovador", pelo Major Salustiano José Monteiro de Barros e pelo professor Afonso Angeli Torteroli. Poucos meses depois, surgiria o "Reformador", sob a direção de Augusto Eliasa da Silva (21 de janeiro de 1883). Para a ideia da publicação deste último pesou a Carta Pastoral combatendo o Espiritismo, publicada em 1882, pelo bispo do Rio de Janeiro, que motivou respostas por parte do médico Antônio Pinheiro Guedes.

Será Augusto Elias da Silva quem promoverá, ao final desse ano (27 de dezembro de 1883), em sua própria residência, a reunião preparatória de rearticulação do movimento no Município da Corte, dada a manifesta incompreensão entre os componentes das diversas entidades espíritas então ali existentes: o "Centro da União Espírita do Brasil, o "Grupo dos Humildes", o "Grupo Espírita Fraternidade" e a "Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade". Como fruto desse entendimento, será fundada, a 1 de janeiro de 184, a Federação Espírita Brasileira, considerada como a "Casa de Ismael", com o objetivo de federar todos os grupos através de "um programa equilibrado ou misto" e que difundisse por todos os meios o Espiritismo, principalmente pela imprensa e pelo livro.

A 17 de agosto de 1885, em uma sala na Rua da Alfândega, a FEB inaugurou o ciclo de conferências públicas que se destacará tendo entre os seus oradores os nomes de Augusto Elias da Silva, Bittencourt Sampaio e outros pioneiros do Espiritismo no Brasil. O aumento do afluxo de público fara com que essas palestras se transfiram para o Salão da Guarda Velha (na Rua de igual nome, atual, Av. 13 de Maio) onde, a 16 de agosto de 1886, o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes proclamará publicamente as suas convicções espíritas diante de mais de mila pessoas (1.500 ou 2.000, conforme as fontes). Elias da Silva funda, em 1887 o Grupo Espírita Sete de Março, que se manterá em atividade até 1890.

Nos agitados dias que se estenderão da Abolição da Escravatura no Brasil (1888) até a Proclamação da República (1889), destacam-se: a série de artigos sobre a Doutrina Espírita publicada em O Paiz, periódico de maior circulação da época. Com o nome de Estudos Filosóficos - Espiritismo, os artigos saíram regularmente aos domingos, no período de 23 de outubro de 1887 a dezembro de 1893, assinados sob o pseudônimo "Max". A mensagem do espírito de Allan Kardec no Grupo Espírita Fraternidade, conclamando os espíritas à harmonia (1888); e a decisão de Bezerra de Menezes - que por meio de artigos e conselhos pregava a necessidade de maior compreensão entre os espíritas - depois de muito instado, assumir a direção da FEB, sucedendo a Ewerton Quadros, que a administrava de 1884 a 1888, e que, como militar, fora transferido para a então Província de Goías. A visita do médium de efeitos físicos o americano  Henry Slade (1835-1905) ao Brasil.

É neste momento que se reorganiza e instala nas dependências da FEB o Centro da União Espírita do Brasil em sua segunda fase, com Bezerra de Menezes como presidente e, depois, Elias da Silva (1893). Foi ainda Bezerra de Menezes quem incorporou à FEB o Grupo dos Humildes, depois denominado Grupo de Ismael. Após a Proclamação da República, o Grupo Espírita Fraternidade incorpora-se-à, por sua vez também, à FEB.

Figuras proeminentes do Movimento Republicano, como Joaquim Saldanha Marinho (1816-1895) e Quintino Bocaiuva (1836-1912) tinham simpatia pela Doutrina Espírita. No meio literário destacam-se, como crítico, Machado de Assis (1839-1908); o espírita Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) - que realizou sessões de psicografia em Paris e escreveu uma peça teatral "Os Voluntários da Pátria" onde estão presentes elementos espíritas, e como simpatizantes Castro Alves (1847-1871), que pretendeu escrever uma obra de cunho espírita que seria o poema final de Os Escravos. Augusto dos Anjos, que coordenava sessões espíritas e psicografia em sua cidade natal, Antônio Castro Lopes (1827-1901), poeta e filósofo, e Alexandre Jose´de Mello Moraes (1816-1882), médico, historiador e político.

O Período Republicano

Com a Proclamação da República do Brasil (15 de novembro de 1889), a 22 de dezembro a FEB congratula-se com o Governo Provisório pelo advento do novo regime. Entretanto, estando o país ainda sem uma Constituição, o Decreto 847, de 11 de outubro de 1890, promulgou o Código Penal da República. Este diploma, de inspiração positiva, associava a prática do Espiritismo a rituais de magia e curandeirismo, conforme expresso em seu Artigo 157, que rezava:

"É crime praticar o Espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismãs e cartomancias, para despertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar cura de moléstias curáveis ou incuráveis, enfim, para fascinar e subjugar a credulidade pública. Pena: prisão celular de 1 a 6 meses e multa de 100$000 a 500$000."


Os espíritas protestaram junto a Campos Sales, então Ministro da Justiça, sem sucesso. O relator do Código, João Batista Pinheiro, limitou-se a afirmar que o texto referia-se à prática do chamado "baixo Espiritismo". Em 22 de dezembro de 1890, Bezerra de Menezes, enquanto presidente do Centro da União Espírita do Brasil, oficiou ao Presidente da República, Marechal Deodoro da Fonseca, acerca do novo Código Penal.

Preocupado com possíveis focos de resistência ao regime, o Governo autorizou a polícia a invadir reuniões e residências à procura de opositores. Como consequência, em 1891, na cidade do Rio de Janeiro, vários espíritas chegaram a ser detidos. Perseguidos e proibidos de se reunirem, os poucos centros espíritas entãom existentes viram-se na contingência de fecharem as suas portas, a fim de que não incorressem nas penas da Lei. A própria FEB foi obrigada a suspender a publicação de sua revista, o Reformador, neste momento. Será nesse contexto, entretanto, que Bezerra de Menezes funda o Grupo Espírita Regeneração (18 de fevereiro de 1891), a Casa os Benefícios.

Em 1893, no auge da segunda Revolta da Armada, o Governo endureceu ainda mais o regime. Os espíritas apresentaram um novo protesto ao Congresso Nacional contra o Código Penal, uma vez mais em vão, de vez que a comissão revisora do Código não atendeu às reivindicações formuladas por aqueles. Vitimado por dificuldades externas e internas, o Reformador deixou de circular no último trimestre daquele ano. O Grupo Espírita Fraternidade, após ter alterado os seus estatutos passando a denominar-se Sociedade Psicológica Fraternidade. A Revolta Armada, extinguiu-se, e, no Natal desse mesmo ano, Bezerra de Menezes encerrou a série Estudos Filosóficos que vinha publicando no O Paiz.

No ano seguinte (1894), com o abrandamento da situação política, Augusto Elias da Silva, em conjunto com Fernandes Figueira e Alfredo Pereira, inicia uma campanha financeira para subsidiar os projetos da FEB. O Reformador voltou a circular.

Os historiadores do movimento registram que, à época, vivia-se uma cisão ideológico-doutrinária entre os chamados "laicos" ou "científicos", representados pelo Professor Angeli Torteroli, que defendiam o aspecto científico do Espiritismo; e os "místicos", pelo Dr. Bezerra de Menezes, que defendiam o aspecto religioso. Desse modo, em 04 de abril de 1894 o Centro da União Espírita muda o seu nome para Centro da União Espírita Propaganda no Brasil, sob a direção do prof. Angeli Torteroli, com sede na Rua Silva Jardim, 9. A sua Diretoria pertenciam nomes como os de Júlio César Leal e Bezerra de Menezes, que dela se retirou em 1896, diante da campanha de insultos pessoais que contra ele se desencadeara, por ser considerado um místico, que não se dava ao trabalho de raciocinar. 

Diante da renúncia de Júlio César leal à presidência da FEB, após sete meses no cargo, devido á profunda crise administrativo-financeira e ideologia vivida pela instituição, Bezerra de Menezes, a 03 de agosto de 1895, aceita assumir mais uma vez o cargo. No exercício de suas funções, imprimir orientação evengélica aos trabalhos da instituição, permaneceu no cargo até vir a falecer, em 1900. 

Nesse ínterim, em 28 de agosto de 1897, o Centro da União Espírita de Propaganda do Brasil reúne-se em Congresso Espírita Permanente, homenageando a Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, objeto de tentativa de perseguição aos espíritas em 1881. Todavia, o Centro desaparece no mesmo período do Congresso. Em 1904 já circulavam no país nada menos que 19 periódicos dedicados ao Espiritismo.

Em 15 de abril de 1905 a sede da FEB, então na Rua do Rosário, 97, no centro histórico do Rio de Janeiro, foi visitada por funcionários da Diretoria Geral de Saúde Pública, que lavraram autos de infração contra o médium Dr. Domingos de Barros Lima Filgueiras, por exercício ilegal da Medicina. No processo, aberto contra o então presidente da FEB, Leopoldo Cirne, e o médium Domingos Filgueiras, ambos foram absolvidos.

A nova sede da FEB, na Rua do Sacramento (atual Avenida Passos), foi inaugurada em 10 de dezembro de 1911. Em 1 de maio de 1912 é fundado, na cidade do Rio de Janeiro, o jornal espírita semanal Aurora, por Inácio Bittencourt, seu responsável por mais de três décadas. Sob a sua presidência será fundado, em 1919, o Abrigo Tereza de Jesus, tradicional obra assistencial que chegou aos nossos dias.

O papel centralizador da FEB a nível nacional foi questionado, na década de 1920, com a fundação da Liga Espírita do Brasil por Aurino Barbosa Souto (31 de março de 1926), que também tinha a mesma proposta. Como reação, reuniu-se no mesmo ano, pela primeira vez, o Conselho Federativo da FEB

O Jornal do Brasil publicou entrevista com o escritor Coelho Neto (7 de junho de 19234), anteriormente intransigente adversário do Espiritismo, mas que a ele se converteu após ter participação, na extensão do seu escritório, de uma conversa ao telefone entre a sua neta, falecida em tenra idade, e a mãe dela. Nesse mesmo ano, proferiu um discurso sobre a sua adesão à Doutrina Espírita, no Salão da Guarda Velha, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, o serviço de mediunidade receitista da FEB atingiu o seu alto número de consultas, com quase 400 mil pessoas atendidas.

Do Estado Novo ao Pacto Áureo


Primeiro Congresso Espírita Mundial, realizado no Brasil em 1948.

Desde a década de 1920 registravam-se no Brasil choques entre o Espiritismo e a Psiquiatria que só vieram a acabar por volta da metade do século XX, devido a avanços como as pesquisas realizadas entre as décadas de 1950 e 1960 sobre a mediunidade no país pelo sociólogo e etnólogo francês Roger Bastide, que demonstrou os preconceitos e etnocentrismos nos anteriores estudos sobre o tema.

Henrique Roxo (1877-1969), em seu Manual de Psiquiatria (1921) dedica um capítulo inteiro ao Espiritismo, reproduzindo o discurso médico e católico da época, ainda marcado pelo escravismo, que remetia a crença, no país, a resquícios do fetichismo africano, observando: "Vê-se muito frequentemente o que se observa no cinema, nessas danças de negros, com seus movimentos extravagantes, suas contorções e seus gestos". Os profissionais formados na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro consideravam o Espiritismo como uma patologia contagiosa, capaz de incapacitar grandes contingentes humanos para o trabalho. Devia, por essa razão ser reprimida pelas autoridades e erradicada por meio de campanhas de saúde pública.

O doutorando, apelava à Liga Brasileira de Higiene Mental e á Igreja Católica para sensibilizarem a opinião pública e os poderes constituídos, propondo mesmo uma Semana Antiespirita à semelhança da então existente Semana Antialcoólica, para mobilizar a sociedade contra esse mal.

Antônio Xavier de Oliveira, na obra Espiritismo e Loucura (1931), afirmou que dos casos por ele estudados no Pavilhão de Assistência a Psicopatas, 1723 pessoas enlouqueceram "só exclusivamente pelo espiritismo". E acerca de O Livro dos Médiuns.

Nesse mesmo ano (1931) Murilo de Campos e Leonídio Ribeiro publicam o livro anti-espiritismo O Espiritismo no Brasil, buscando relacionar o Espiritismo com a Medicina, e onde se lê: "A prática do Espiritismo é um problema de polícia, é crime contra o código penal."

É ainda em 1931 que o espírito Emmanuel se apresenta ao médium Francisco Cândido Xavier iniciando-se um trabalho conjunto que se estenderia até quase ao fim da vida do médium. No ano seguinte a FEB, no Rio de Janeiro, lançou a obra Parnaso de Além Túmulo (06 de julho de 1932), pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, com grande repercussão na imprensa brasileira, como tivera, em Portugal, no início do século, a coletânea Do Páis da Luz, pela mediunidade de Fernando de Lacerda.

Quando da implantação do Estado Novo no país, em 1937, a repressão ao Espiritismo aumentou. A própria FEB foi fechada pela política (27 de outubro) e reaberta, três dias depois, por ordem do então Ministro da Justiça, Dr. José Carlos de Macedo Soares. No ano seguinte (1938), vem a público a obra Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, também pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, atribuída ao espírito de Humberto de Campos. A obra narra a formação do Brasil sob a perspectiva espírita, pela qual as entidades espirituais teriam influenciado os principais eventos da história pátria, desde o "desvio" da frota de Cabral à abolição da escravatura profetizando-lhe um lugar de destaque entre a Cristandade.

O ano de 1939 foi marcado pela realuização do I Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas. Nesta década inicia-se ainda a atuação do médium Francisco Peixoto Lins, carinhosamente referido apenas como Peixotinho

A década encerrou-se com a reforma do Código Penal, que deixou de criminalizar expliciramentre a prática do Espiritismo (1940). Ainda assim, no ano seguinte (1941), todos os centros espíritas da então capital federal forma suspensos por portaria da polícia. No Rio de Janeiro, foi fundada a Sociedade de Medicina e Espiritismo do Rio de Janeiro (11 de junho de 1941), tendo como primeiro presidente o Dr. Levindo Golçalves de Mello.

também a partir de 1943 o espírito André Luiz, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, inicia uma série de livros que abordam a vida no plano espiritual. A primeira obra: Nosso Lar foi lançada no Rio de Janeiro no ano seguinte (1944). Nesse mesmo ano (1944), D. Catarina Vergolino de Campos, viúva do escritor Humberto de Campos (desencarnado em 1934), abriu processo contra a FEB e contra o médium Francisco Cândido Xavier, visando receber direitos autorais sobre as mensagens psicografadas atribuídas ao seu finado marido. Também no Rio de Janeiro, e neste ano, foi fundada a Cruzada dos Militares Espíritas (10 de dezembro de 1944).

Ainda em 1944 Cornélio Pires publica a obra Coisas D'Outro Mundo, de tema espírita. Viria a publicar outra obra espírita em 1947, Onde estás, oh Morte? e, após o seu desencarne prosseguiria o trabalho literário através da psicografia de Francisco Cãndido Xavier.

Em 1945 foi fundado o Hospital Espírita Pedro de Alcântara, no Rio de Janeiro. Com o fim do Estado Novo, a Constituição Brasileira de 1946 garantiu ampla liberdade religiosa no páis.

Tem lugar no Rio de Janeiro, o evento mais importante do período: a aprovação dos dezoito itens do Pacto Áureo, considerado o mais importante documento do movimento espírita no país (05 de outubro de 1949). O documento tinha a finalidade de unificar as federações estaduais em torno da FEB. No ano seguinte (1950) foi estabelecido o Conselho Federativo Nacional, composto pelos representantes das referidas adesas. Ainda em 1950 partiu do Rio de Janeiro para a Região Nordeste do Brasil, a chamada Caravana da Fraternidade, integrada, entre outros, por Lins de Vasconcelos, Carlos Jordão da Silva e Leopoldo Machado. Como resultado, ampliou-se o número das federações estaduais no país. 

Em termos de divulgação, realizou-se m 1949 o II Congresso Espírita Pan-Americano, na Cidade do Rio de Janeiro, promovido pela Liga Espírita do Brasil. Em 09 de dezembro de 1957 foi fundado, na cidade do Rio de Janeiro, o Instituto de Cultura Espírita do Brasil, pelo sociólogo Deolindo Amorim. No Rio de Janeiro, o coronel Jaime Rolemberg de Lima, lança o boletim informativo Serviço Espírita de Informações (maio de 1965). Também no Rio de Janeiro, foi fundada a Rádio Rio de Janeiro (1971) a primeira rádio espírita do Brasil.


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